“Como se forma la personalidad y, más aún, la de un artista?” 
(Como se forma a personalidade e, mais ainda, a de um artista?)
                                                                                                        Remedios Varo
Remedios Varo é uma das mais extraordinárias representantes do surrealismo. As bases de seu trabalho estão interligadas com sua poderosa imaginação, e com a memória de seus sonhos. Como disse o poeta Octavio Paz sobre ela “As aparências são as sombras dos arquétipos: remédios varo não inventa, lembra. Mas o que lembra? Essas aparições não se assemelham a nada”. Octavio nos mostra a forma como Remedios trabalha seu subconsciente para formar as sinuosas entidades de suas peças: ela sonha. Aqui, a memória se opõe à imaginação. 
Remedios cria um universo fora do tempo linear, a memória é catalizadora desse evento e através dela, constrói pessoas, criaturas, cenas, que vê dentro dessa realidade flutuante e em movimento entre o existir e a irrealidade. Ela desenha mulheres que não são objetos, mas sim feitoras, mágicas, bruxas, alquimistas. Nesse universo criado por sobreposições, linhas que se retorcem e se complicam por serem distantes da realidade, os elementos se mesclam uns com os outros criando novas formas.
Ela nasceu em Catalonia, estudou em Madrid, participou do movimento surrealista catalão e parisiense nos anos 30, e alcançou a sua maturidade artística no México, onde se exilou fugindo do nazismo. Sua técnica fugia do automatismo surrealista francês, método que suprime o controle do consciente sobre o processo de produção, e, ao invés disso, ela aplicava metodologias científicas matemáticas em seus trabalhos. Desde os seus rascunhos era possível ver como sua obra era cuidadosamente estruturada e desenhada, e, utilizando isso, agregou aspectos e técnicas surrealistas nas composições. Para entender a poética de seu trabalho é preciso compreender a importância da forma como ela trabalhava desde os seus detalhados rascunhos.
Rascunho | Carta de Tarot - 1957
Rascunho | Carta de Tarot - 1957
Rascunho | Carta de Tarot - 1957
Rascunho | Carta de Tarot - 1957
Carta de Tarot - 1957
Carta de Tarot - 1957
Sua memória funciona como uma conexão ao passado infantil, às lendas e mitos medievais que ela ouvia por lugares que passava e que foram moldando sua psique. A tradução disso é o que vemos: a quebra do tempo, criando o seu próprio nesse universo psicanalítico. Varo criava infinitas possibilidades de passado, presente e futuro e conexões com o universo – essas que começam a aparecer depois da chegada do homem à lua.
Não é necessário ser um grande psicanalista para entender de onde vem a angústia de muitas das imagens pictóricas de Remedios Varo. Nem é preciso muita imaginação para compreender seu desespero final, aquele que levou à dúvida entre uma morte natural e o suicídio, porque a memória pode ser insuportável quando as imagens invadem a mente e conseguem superar toda a realidade suposta presente. Provavelmente esse lado da memória levou Remedios Varo diretamente ao seu fim.
Mas há outra memória, extraordinariamente fértil e produtiva, que é aquela que tornará possível sua criação, aquela que deve ter presidido a etapa de sua maturidade criativa, no México, desde 1955, ano de sua primeira exposição até 1963, data de sua morte. Oito anos prodigiosos, com criações extraordinárias que deram expressão a uma memória, com a aplicação da base de tudo o que aprendeu. Assim, em seu trabalho pictórico, ela realizou uma síntese extraordinária entre tradição e inovação, absolutamente sua e pessoal. Porque, não nos esqueçamos de algo importante: quem se lembra é Remedios Varo.
Créditos
Produção e Edição | Colagem Fajuta
Base textual | Remedios Varo Constelações, Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires
Imagens | Remediosvaro.com
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